Arrasta-pé capixaba

Zabumba, triângulo e acordeon (ou sanfona) são os instrumentos básicos para quem quer tocar forró. Diferente do vanerão – gênero típico do Sul – e do sertanejo, o forró é de origem nordestina e é também conhecido como “arrasta-pé”, isso porque quando se pensa no ritmo, lembra-se logo da dança.

No Espírito Santo, o Forró Comichão é um dos grupos que se aventura a fazer esse tipo de som. Em seu ano de comemoração de 10 anos de banda, o zabumbeiro Vitor Calmon fala sobre a trajetória do grupo, sobre as dificuldades enfrentadas no estado e, também, sobre o público local.

Banda Forró Comichão

Vitrine do som: De onde surgiu a ideia para formar uma banda de forró? A formação sempre foi a atual?

Vitor Calmon: Em agosto de 2000, um grupo de 5 amigos com idade entre 11 e 14 anos deixaram as brincadeiras de rua para brincar de tocar instrumentos musicais, tentando imitar o irmão mais velho de um deles que já tinha uma banda na época.

Desprovida de formação musical, dinheiro ou apoio dos pais e apenas com a força de vontade, o grupo desenvolveu sua maneira de ensaiar. Com uma caixa de isopor utilizada como zabumba, um pingente de toalha de rosto no lugar do triangulo, raquetes de ping-pong para tirar som de percussão e um violão desafinado faltando duas cordas, a banda recém formada retirava seus primeiros sons, mesmo sendo eles totalmente insuportáveis aos ouvidos alheios.

Inicialmente formada por Victor Calmon na zabumba, Jales neto no Vocal, Leandro Garcia na percussão, Felipe Ribeiro no triangulo e Junior Dias no acordeom (detalhe é que ainda não tínhamos acordeom), 3 anos depois recebemos com muita satisfação Vitor Nunes no contra-baixo, e tivemos com tristeza que nos despedimos do Felipe e Junior, que resolveram seguir outros caminhos.

VS: E por que “Forró Comichão”?

VC: Comichão significa coceira, agonia. O Forró Comichão como o próprio nome diz não permite todos os que escutam seu som fiquem parados.

VS: Quais as maiores dificuldades enfrentadas no cenário capixaba?

VC: Os órgãos governamentais deveriam apoiar mais a cultura local como fazem em outros estados, aonde a cultura local é mais valorizada do que as de fora. Aqui no ES tudo que é de fora é sempre melhor do que o de dentro, o que de fato nem sempre é verdade.

VS: Quando perceberam que o projeto iria dar certo?

VC: Em Julho de 2001, a banda completaria um ano e resolvemos elaborar um pequeno evento na casa de nosso sanfoneiro para comemoração dessa data histórica (risos). Já com alguns instrumentos comprados com o dinheiro que era nos dado para lanchar na escola, mas nós pequenos empreendedores guardávamos e colocávamos em uma caixinha de sapatos, a fim de comprarmos instrumentos reais.

Fizemos uma festinha para poucos amigos do bairro, mas quando nos demos conta havia 250 pessoas lotando a casa do menino. O pai dele resolveu retornar mais cedo. Chegando em casa se deparou com uma super festa em sua casa (quase não ouvimos aquela noite). Com o dinheiro recolhido no evento compramos quase todos os instrumentos que precisávamos. E o pai do Junior que é acordeonista, daqueles de uma música só, depois do acontecido o presenteou com um acordeom e ensinou-o suas primeiras notas.

VS: Quais são grandes influências para vocês?

VC: Luiz Gonzaga é o mestre e criador do gênero; Dominguinhos, o nosso espelho de humildade e musicalidade; e Falamansa o grande divulgador.

VS: Vocês percebem alguma mudança no público em 10 anos de banda?

VC:  Sim, antigamente o Forró tinha mais apoio da mídia e as pessoas ainda sabiam diferenciar o forró de sertanejo e de vaneirão.

VS: Como foi e está sendo o ano de comemoração de uma década do grupo?

VC: Está sendo excelente, a cada dia percebemos que estamos subindo mais degraus, recebendo o carinho do público e sendo valorizados pelos contratantes. Tivemos grande satisfação de gravar nosso segundo CD em São Paulo, que ano que vem estará sendo lançado.

VS: Algum conselho pra quem pretende começar agora?

VC: Você é do tamanho do seu sonho!

Isabella Mariano

Foto: Divulgação

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